Açaí (da Mata Atlântica)
Euterpe edulis

Organizado por:
Cintia Karina Elizandro - Bióloga - CRBio 88958-03D
Édison Luiz da Silva - Biólogo - CRBio 75536-03D
Juçara: Açaí da Mata Atlântica
Juçara: açaí da Mata Atlântica
Família: Arecaceae (palmeiras)
Espécie: Euterpe edulis Martius
Nomes populares: Palmito-juçara, juçara, jiçara, içara, palmiteiro-doce, ençarova, ripa e palmiteiro.
Distribuição: No Brasil a espécie ocorre em Cerrado e Mata Atlântica, nos Estados do Rio Grande do Norte, Paraíba, Pernambuco, Bahia, Alagoas, Sergipe, Goiás, Distrito Federal, Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina, Rio Grande do Sul. Ocorre também na Argentina e Paraguai.
Características gerais: palmeira de caule solitário de 5 a 12 metros de altura e 10 a 15 cm de diâmetro, possui raízes superficiais e fornece frutos arredondados, que quando maduros são arroxeados e distribuídos em cachos. As inflorescências apresentam flores masculinas e flores femininas, a fecundação é cruzada e a polinização é realizada principalmente por insetos. Geralmente nas áreas de floresta essa palmeira produz em média dois cachos anuais, no entanto, as plantas cultivadas a céu aberto, em quintais ou outros modelos de produção, podem produzir até seis cachos. Cada cacho (infrutescência) pode atingir até 5 Kg, mas a média é de 3 Kg.
Propagação: Exclusivamente por meio de sementes.
Como plantar:
Para manter a viabilidade das sementes é importante mantê-las com umidade. Portanto, as sementes a serem plantadas devem ser novas.
Para a coleta das sementes é importante retirá-las de diferentes matrizes, com uma distância mínima de 25 m entre as plantas, isso irá conferir uma melhor variabilidade genética para seu pomar, palmeiral ou Sistema Agroflorestal (SAF).
Para obtenção das sementes é necessário remover a polpa.
Uma boa opção para o substrato é misturar 3 partes de solo para 2 partes de cama da aviário bem curtida. Outra opção dependendo da permeabilidade e fertilidade do solo é mistura uma parte de terra preta, uma parte de areia e uma parte de cama de aviário bem curtida.
O tamanho mínimo para o saquinho onde irá ser semeada a semente para o desenvolvimento da muda é de 15cm de largura por 35cm de altura.
A semeadura deve ser superficial, ou seja, fazendo uma pequena cova (de aproximadamente 2cm) no centro do saco com o substrato, coloca-se a semente e cobre-se com terra. A irrigação deve ser diária.
Para introduzir a muda a campo é necessário prover algum tipo de sombreamento para o desenvolvimento da planta, isso pode ser feito através do consórcio de culturas, como a banana, por exemplo, ou por meio de Sistemas Agroflorestais (SAFs), que combinam espécies de diferentes usos, ciclos e cortes.
Quando for realizar o transplante das mudas nos saquinhos para o solo, é importante que as raízes sejam superficialmente cobertas, ou seja, deve-se enterrá-las em pouca profundidade e fazer uma cama com bastante folhas secas, galhos de árvores ou outras palhadas em torno da muda introduzida a campo.
Manejo Sustentável:
Apesar da juçara ser uma palmeira amplamente distribuída, ocorrendo de forma contínua ao longo de toda a Mata Atlântica e também em parte do Cerrado, em áreas de Florestas Úmidas bem preservadas, diversos fatores indicam que se trata de uma planta ameaçada de extinção. E, segundo o Centro Nacional de Conservação da Flora, esta espécie atualmente figura entre as espécies vulneráveis, ou seja, são espécies que enfrentam um risco de extinção elevado na natureza.
A extração predatória ilegal de palmito é a uma das causas que mais contribuem para a situação de vulnerabilidade da palmeira juçara.
Uma nova possibilidade para exploração sustentável da juçara, surgiu pelo aumento do consumo da polpa de açaí. O açaí é tradicionalmente consumido no Norte do Brasil em todas as refeições, e gradativamente, graças aos benefícios que proporciona para a saúde, passou a ser consumido pelo restante do Brasil e também em outros países, ganhando inclusive o título de superalimento.
O açaí (Euterpe oleracea) é uma palmeira similar a palmeira juçara, a diferença é que ela ocorre na região amazônica e forma touceiras, enquanto a juçara apresenta caule solitário.
A polpa proveniente dos frutos da juçara tem valor nutricional semelhante ao açaí, no entanto, é ainda mais rica em antocianinas (substâncias antioxidantes). A polpa dos frutos da juçara também tem sido chamada de açaí da Mata Atlântica.
Visualizar a exploração da juçara não mais pela produção de palmito, cuja planta necessita ser derrubada para seu consumo, mas sim pela produção de frutos altamente nutritivos que produzem anualmente e por muitos anos, é uma possibilidade para manutenção da juçara nos ecossistemas, onde ela desempenha um papel muito importante para o sustento de várias outras espécies; como também em outras áreas como quintais, pomares e Sistemas Agroflorestais (SAFs).
A palmeira juçara funciona muito bem em consórcio com a bananicultura, introduzindo mais uma alternativa de renda, onde pode ser implantada com um espaçamento aproximado de 5m x 5m.
Para um manejo sustentável dos frutos, recomenda-se nunca remover todos os cachos da juçara, mas manter alguns para dispersão natural e alimento para outros animais. Exemplo de coleta: plantas com dois cachos, colher apenas um, plantas com quatro cachos, colher dois.
Benefícios do açaí para a saúde
Muitos estudos têm sido realizados nos últimos anos para determinar os efeitos da polpa de açaí sobre a saúde humana, e entre os resultados já encontrados pode-se destacar:
- Prevenção do câncer;
- Redução do colesterol;
- Saúde do coração: proteção contra a aterosclerose (endurecimento das artérias);
- Agente anti-inflamatório;
- Fortalecimento do sistema imunológico;
- Agente antioxidante;
- Facilitam o trânsito intestinal;
- Prevenção do envelhecimento.
Informações nutricionais:
Alto teor de lipídios, como os ácidos graxos essenciais Ômega 6 e Ômega 9. Além disso, é rico em carboidratos, fibras, vitaminas E, proteínas e minerais (Manganês, Ferro, Zinco, Cobre, Cromo). Rica em pigmentos antioxidantes e outros compostos.
Sugestões de consumo:
Na região Norte do Brasil a polpa é consumida ao natural acompanhando pratos salgados. Já aqui no Sul, normalmente é consumida com açúcar mascavo, tipo sorvete ou na forma de suco. O açaí combina muito bem com outras frutas, e acrescentar frutas como limão, laranja, morango ou acerola que contém vitamina C, potencializa os efeitos benéficos do açaí.
Além disso, fica uma delícia com abacate, abacaxi, maracujá, banana...
Pode ser utilizada também na fabricação de geleias, tortas e licores faça suas experimentações e boa saúde!
Processamento da polpa de açaí da juçara
1º passo: coleta de cachos maduros;
2º passo: seleção das frutas e limpeza;
3º passo: lavagem em água;
4º passo: higienização em água clorada (1 col de água sanitária por litro de água), deixar de molho por 10 minutos;
5º passo: descartar a água do molho;
6º passo: colocar a frutas de molho em água morna (aproximadamente 40°C) entre 30 e 40 minutos;
7º passo: despolpar numa despolpadeira utilizando duas partes de açaí para uma parte de água gelada ou despolpar manualmente seguindo os passos abaixo;
8º passo: colocar as frutas em balde higienizado e pilar com uma garrafa higienizada utilizando uma parte de água para duas de fruta;
9º passo: passar as frutas por uma peneira fazendo movimentos com as mãos e aparando a polpa em uma tigela;
10º passo: separar as sementes do bagaço que não passou pela peneira, levando este bagaço no liquidificador para bater com um pouco de água e passar novamente pela peneira.
11º passo: tanto a polpa proveniente do despolpamento na despolpadeira como manualmente devem consumidos na hora ou guardados na geladeira para ser consumido em até 12 horas, ou então deve ser acondicionado em embalagens onde a polpa possa ser congelada.
E agora um pouco da nossa história pessoal com o açaí...
Nós havíamos conhecido o açaí nas nossas viagens/aventuras pelo Norte do Brasil (1998), mas ficamos muito apaixonados pela polpa quando moramos em Caldas Novas - GO (2002), porém o preço era bastante alto, uma vez que a polpa vinha do Norte. Ou seja, amávamos e começamos a pesquisar mais a respeito dessa planta, quando nos deparamos com suas maravilhosas propriedades para o organismo. Então fomos nutrindo um sonho em comum: ter essa abundância em nossas vidas. Contudo, morávamos no Sul do Brasil, e isso já tornava o sonho um pouco mais distante, até que descobrimos que aqui na nossa região também existia frutos iguais ao do Norte, apesar da palmeira ser de outra espécie, e fomos aprofundando nossas pesquisas e contatos até identificarmos a planta e aprendermos a forma de extração da polpa (que é bastante trabalhosa, mas compensa todo o esforço). Em 2006, eu (Cíntia) passei num concurso para trabalhar na Epagri, no município de Timbé do Sul - SC, e eis que aqui é o paraíso dessas palmeiras tão amadas, e quando vimos já éramos vizinhos do nosso sonho. Nas minhas primeiras férias ao invés de viajarmos, investi numa despolpadeira de açaí e compramos um freezer parcelado (haha), bem assim, como todas as nossas conquistas: frutos de sonhos, muito trabalho e planejamento. E desde 2007, todos os anos no período da safra do açaí, que aqui na nossa região acontece entre maio a agosto, nós reservamos alguns dias para colheita, processamento e congelamento da polpa para que tenhamos disponível para um ano inteiro de consumo. Inicialmente nossas colheitas eram feitas todas nas palmeiras da nossa vizinhança, no próprio Centro da cidade, onde tinham muitos cachos (mas está cada vez mais escasso), e a partir das sementes resultantes do processamento da polpa fizemos mudas em vasinhos, semeamos pela cidade, beira de rio, etc., e doamos sementes para quem tinha interesse. Nossa casa era alugada, e quando em 2009 nos mudamos para nossa casa própria, já viemos com os vasinhos para o nosso plantio. Atualmente já colhemos cachos na nossa casa, mas ainda não é o suficiente, em breve sim, pois temos várias palmeiras jovenzinhas crescendo. Já ministramos vários cursos a respeito dessa planta incrível, e vivemos felizes para sempre! Fim.
BIBLIOGRAFIA CONSULTADA
BERNAUD, F. S. R.; FUNCHAL, C. Atividade antioxidante do açaí. Nutrição Brasil – setembro/outubro 2011;10(5).
BOURSCHEID, Kurt [et al]. Euterpe edulis – palmito juçara. In: Espécies nativas da flora brasileira de valor econômico atual ou potencial: plantas para o futuro – Região Sul. CORALIN, L.; SIMINSKI, A.; REIS, A. (Editores). Brasília: MMA, 2011.
LORENZI, Harry [et al]. Flora Brasileira Lorenzi: Arecaceae (palmeiras). Nova Odessa, SP: Instituto Plantarum, 2010.
KINUPP, Valdely Ferreira; LORENZI, Harry. Plantas alimentícias não convencionais (PANC) no Brasil. Guia de identificação, aspectos nutricionais e receitas ilustradas. São Paulo: Instituto Plantarum de Estudos da Flora, 2014.
LEITMAN, P.; HENDERSON, A.; NOBLICK, L. ET AL. Arecaceae in Lista de Espécies da Flora do Brasil, Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponivel em: <http://floradobrasil.jbrj.gov.br/2012/>.
PORTINHO, José Alexandre; ZIMMERMANN, Livia Maria; BRUCK, Miriam Rotnes. Efeitos benéficos do açaí. International Journal of Nutrology, v.5, n.1, p. 15-20, jan./abr. 2012.
